quarta-feira, 1 de setembro de 2010

POESIA - É Sou botafogo

É, SOU BOTAFOGO

Sou Botafogo não por escolha, mas por predestinação.
Talvez a magia improvável que entra de mãos dadas com quem veste essa camisa
em cada partida, seja vista apenas por nós.
Por uns selecionados que alcançam uma outra dimensão além do pano,
da fibra do tecido, do filó da rede, do couro da bola.
Sou Botafogo porque vejo em todo céu escuro mais uma chance da maior das estrelas brilhar.
Ela é solitária para se oferecer, sempre, só para nós.
E nós, somos todos , sempre só dela.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

POESIA - Calma

CALMA

Todos falam e falam e agora que calam a tristeza ainda é minha.
Que tristeza se abateu sobre mim de repente, tão de repente que só pode ter estado aqui sempre.
É dor que só quem tem amor demais no coração pode sentir.
Fecho as janelas do quarto para o sol não entrar.
De olhos vidrados deixo minha tola e persistente esperança
Testar a impenetrável impermeabilidade de toda solidão.
Meu coração é um campo minado que já me fez em pedaços.
E o que eu ganhei com a dor que me deixei sentir?
O que passou, passou, o que não passou talvez não passe mais.
Sonhar sai caro para quem não quer viver de ilusão.
Depois que as lágrimas acabam tudo que vem é perda de tempo.
Sintonizo na FM para calar esse silêncio antes que meus ouvidos explodam.
Olho para a rua cheia de gente e não vejo ninguém.
Não adianta te procurar, sei onde você está.
Quero fugir daqui, sair logo de perto de mim.
Durmo no sofá para esquecer como gostaría de estar acordado com você do meu lado.
Estou sozinho, estou vivo e apesar de tudo que fiz, ainda fala alto comigo.
Só os egoístas são felizes.
Vou levando, e só queria, de coração, que Deus não existisse, para me orgulhar de ter feito tudo sozinho.
É sempre tarde demais para quem não tem o que fazer.
Sempre que paro de falar acho que deixei algo por dizer.
Só reclama de falta de gratidão aquele que a fez por merecer de coração.
Você quase sempre me faz sofrer.
Te amo sem querer.

POESIA - Me tornado melhor

POESIA - Jovem a 0% de morfina

Jovem a 0% de morfina

Eu tenho medo de não passar no vestibular Tenho medo de não passar de ano Eu tenho medo de ser assaltado e levar um tiro Tenho medo de não ser assaltado e cair num buraco Tenho medo que meus pais morram e eu não tenha mais ninguém Tenho medo de morrer Tenho medo de viver como vivo Tenho medo da minha vida mudar Tenho medo de sofrer Tenho medo de não conseguir uma namorada Eu tenho medo que riam dos meus versos Tenho medo de silêncio Tenho medo de barulho alto Tenho medo de chegar tarde em casa e tomar esporro Tenho medo de ter que bater em alguém Tenho medo de machucar aqueles de que gosto Tenho vergonha de sentir medo Tenho medo de dizer o que sinto Tenho medo de me deixar ser ajudado Tenho medo de escuro Tenho medo de me masturbar e alguém me flagrar e de meu pau ser pequeno e de eu ser impotente e de ser estéril e de não poder ter filhos e de nenhuma mulher querer ter meus filhos Tenho medo de ser chamado de medroso Tenho medo de desconfiarem de mim Tenho medo que depositem todas as esperanças em mim Tenho medo de tentar Tenho medo de não conseguir Tenho medo de dizer meu nome esquisito Tenho medo de dizer meu nome bonito mas ter a cara feia Tenho medo de ser ignorado De não ser amado De não arrumar emprego De não querer trabalhar Tenho medo de amar Tenho medo de ser amado e tenho medo de enlouquecer Tenho medo de ser considerado louco Tenho medo que me internem só para se livrarem de mim Tenho medo de não ser internado e machucar alguém Tenho medo de que você que está lendo não esteja gostando Tenho medo que adore e queira me conhecer mas não me ache Tenho medo que me encontre e me ache esquisito Tenho medo de que goste de mim mas eu não goste de você.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

POESIA - Favelinha

FAVELINHA

Parece liberdade de montão, mas é só solidão.
Parece incerteza, mas é só tristeza.
Parece febre, mas é só suor.
Parece amor, mas é só uma flor.
Parece infelicidade, mas é só sua cidade.
Parece brinquedo, mas é só um graveto.
Parece ajuda, mas é só o vento na janela.
É alegria, é cheiro de feijão na panela.

POESIA - Desafio ao ferro (homenagem aos powerlifters)

DESAFIO AO FERRO

Em cada gota de suor,
cada músculo tensionado,
cada dia de treino pesado,
cada vez que levanta da cama querendo ficar deitado,
cada vez que enfaixa o joelho até não ter mais espaço,
cada vez que sobe com todos achando que vai ficar,
cada vez que faz a barra envergar,
cada vez que vai além em mais uma repetição,
em mais um dia,
você sabe que pode dormir a noite tranquilo
porque pode enganar aos outros
mas não pode enganar o ferro.

E fecha os olhos sabendo que fez o seu melhor.

POESIA - Ecos de um prato vazio

ECOS DE UM PRATO VAZIO

Caminhando para a escola pública.
Lembrando
Da mãe doente,
Do chão áspero,
Do caixote com balas para vender na porta do cinema.
Imaginando,
Um prato com comida,
Não muita, não precisa.
Só alguma.
Só comida.
Sentindo
A barriga doendo.
Ainda é tão cedo.
O pé quase descalço tocando o chão,
Frio,
Como o garfo,
Como a colher,
As vezes quente,
Cheinha de arroz com feijão.
O professor lá na frente,
Um montão de números, letras,
Sem sentido.
É difícil pensar,
Muito sono,
Dormindo.
Sonhando um prato cheio,
Uma mãe saudável,
Sonhando roupas bonitas.
Acordo.
A língua seca,
Saliva na mesa.
No caminho para casa
Vejo carros
Bonitos
São os pratos de comida,
Com comida.
A barriga sempre resmungando,
Não dá mais para apertar o cinto,
Não dá tempo para pedir um pão no bar,
A mãe espera,
A fome não.
Vejo a mãe,
Beijo sua testa e digo que foi tudo bem no colégio,
Minto que comí um pão na rua,
Ela diz que guardou um encima da geladeira pra mim.
A geladeira é muito mais alta que eu,
O banco pequeno e pesado,
Os braços fininhos e fracos,
O pão muito duro,
Os dentes cabaleiam.
Sento à mesa e começo a folhear o livro.
Matemática.
Garfos e colheres sobre a pia,
Secos e cinzas.
O prato de lata no armário.
Meus olhos clamam e meu estômago ruge em silêncio.
Ouço os ecos vindos do prato vazio.
Eles machucam a barriga,
Os ouvidos
E apertam o coração.
Os ecos nunca acabam.
Quem me dera eu pudesse comê-los.
Me sinto fraco.
Os olhos fecham e tombo sobre o livro.